Lübeck: uma cidade medieval, hanseática das sete torres e do marzipan
Lübeck foi fundada em 1114 e obteve em 1160 o alvará de cidade. No seu início também foi chamada Cidade das Sete Torres e a Mãe da Hanse.
Hanse, a Liga Hanseática, desde o século XII até os nossos dias, proporciona aos seus coligados o bem estar social e econômico pela prática do conceito do livre comércio, da paz e da colaboração mútua.
Desde 1987 a cidade velha de Lübeck, com mais de mil monumentos, faz parte do Patrimônio Cultural da UNESCO. E é um grande destino para quem quer conhecer melhor a Alemanha.
Pontos de interesse que recomendamos conhecer em Lübeck
Salve estes pontos que não devem faltar em qualquer roteiro de viagens a esta encantadora cidade no norte da Alemanha:
Holstentor
O Holstentor, exibido na imagem principal do post, é o portal central remanescente de um conjunto de três, dos quais dois foram demolidos no século XIX.
É um exemplo do estilo Gótico em Alvenaria, que fazia parte das muralhas de defesa de Lübeck, da qual resta apenas mais um remanescente, o portal Burgtor.
Em 1863, em meio às discussões sobre a demolição dos portais e muralhas da cidade, foi decidida a não demolição do Holstentor. O portal tinha afundado cerca de 50 centímetros e as torres apresentavam sério risco de desabar.
Em 1871, já parcialmente restaurado, o portal tornou-se o símbolo da cidade. A restauração estrutural definitiva deu-se apenas nos anos 1933/34, alterando alguns detalhes da construção original.
Nesta ocasião os nacional-socialistas instalaram no Holstentor um museu, com a sua visão sobre a História da Alemanha.
Desde 1950, o local abriga nos seus três andares o Museu da História de Lübeck, com exposição temática abrangendo o comércio exterior; as viagens marítimas, e a maquete da cidade antiga com destaque para o seu mercado.
O Holstentor ainda teve algumas restaurações, a última finalizada em 2006.
Katharinenkirche, a Igreja/Museu de Santa Catarina
A igreja de Santa Catarina de Lübeck tem sua origem em 1356 na abadia do mosteiro dos Franciscanos, os quais estiveram ativos na cidade de 1215 a 1531.
Este conjunto igreja/mosteiro foi construído na Königstrasse — a Rua do Rei —, esquina com Glockengiesserstrasse — a Rua dos Fundidores de Sinos — onde está até hoje.
Com a Reforma de Martinho Lutero, iniciada com a proclamação de suas teses, em 1517, e implantada em Lübeck em 1531, o conjunto teve grandes mudanças.
Em 1531 substituiram o ritual das igrejas católicas pelo luterano, passando os conventos e mosteiros a serem dedicados à objetivos sociais. Dentre outros: escolas, casas para pobres e hospitais municipais.
Construído no mesmo estilo Gótico em Alvenaria do Holstentor, o conjunto da Katharinenkirche foi reocupado inicialmente por uma escola de latim e a biblioteca da cidade.
Durante a ocupação francesa, entre 1806 e 1813, o conjunto foi profundamente profanado ao ser utilizado como cocheira de cavalos e hospital militar.
Hoje, a Katharinenkirche é uma igreja/museu inserida no conjunto arquitetônico do antigo mosteiro, o qual abriga também a escola primária Katharineum e a antiga Biblioteca de Lübeck.
Duas imagens a destacar nesta igreja
A imagem que aparece abaixo é de St. Jürgen, aqui São Jorge, baseada em escultura de Bernt Notke de 1489, Suécia. É uma réplica em gesso do também sueco Alfred Ohlson. Foi oferecida como presente de Hamburgo e Bremen em comemoração a independência de Lübeck do Império, em 1926.
ALLERHAEILIGENALTAR, o Altar de Todos os Santos, é uma obra realizada em Lübeck, no final do século XV.
Para quem se interessa por imagens religiosas explico a cena:
- no grupo de quatro paineis centrais, no alto à esquerda estão: José, Maria, o Menino Jesus, Anna e Joaquim;
- no seu lado direito estão os Reis Magos;
- abaixo, à esquerda: onze santas femininas: talvez Santa Úrsula com suas virgens;
- abaixo e à direita: dez mil mártires despencando sobre espinhos;
- no painel lateral direito superior aparecem Apolônia e João Batista. Abaixo: Margarida e Lourenço;
- no painel lateral direito superior estão representados Catarina de Siena e Stillentin. Abaixo: Valentim e Siríaco.
Marienkirche ao lado da Câmara Municipal
A Marienkirche — Igreja de Santa Maria — foi construída entre os anos de 1277 e 1351, como símbolo do poder e prosperidade de Lübeck.
Considerada o melhor exemplo do estilo Gótico de Alvenaria da região do Mar Báltico, pertence a Igreja Evangélica-Luterana da Alemanha do Norte.
A construção desta igreja levou para Lübeck o estilo Gótico francês, não mais em pedra natural, então em alvenaria de tijolos recozidos.
A igreja apresenta três arcadas construídas em alvenaria. A central e maior, com 39 metros de altura, é considerada a mais alta do mundo nesta técnica construtiva.
No total a Marienkirche tem nove capelas laterais e, a oeste, apresenta uma fachada monumental com duas torres de 125 metros de altura.
Na noite do Domingo de Ramos, de 28 de março de 1942, a Marienkirche, a Catedral e a Petrikirche, bem como um quinto do centro de Lübeck, foram duramente atingidos por ataque aéreo da RAF, destruindo muitas obras da Idade Média, queimadas no interior da igreja.
Ainda durante a guerra, a Marienkirche foi protegida por uma cobertura de emergência e, em 1947, iniciaram a sua restauração, que durou doze anos.
O diabo mora ao lado
Uma curiosidade, muito apreciada pelos turistas, é a lenda do diabo ajudando na construção da igreja, imaginando que fosse ser instalada alí uma taverna.
Decepcionado e revoltado com a realidade, ameaçou destruir a obra jogando ao chão uma imensa pedra da torre. Foi acalmado com a promessa da construção de uma taverna defronte à igreja, no que foi atendido.
Hoje o diabo, sorridente e gentil está sentado na pedra, ao lado de Fernanda, na fachada sul da igreja e defronte ao Ratsweinkeller — Taverna da Câmara Municipal de Lübeck.
A escultura em bronze é do artista plástico Rolf Goeler (1927-2006), e mostra um diabo simpático e amigável que liga a igreja com o dia a dia das pessoas.
O pequeno diabo não é ameaçador e, assim como a igreja, faz parte do nosso cotidiano.
Thomas Mann e seu Romance Buddenbrooks
Um dos lugares mais visitados na cidade é a Buddenbrookshaus, um museu no que teria sido a residência dos Buddenbrook, uma construção de 1758.
Thomas Mann nasceu em Lübeck em 6 de junho de 1875, filho de abonada família burguesa. Após a morte do pai, em 1894, a família mudou-se para Munique.
Embora não tenha terminado o ginásio e vivendo da herança do pai, aos 21 anos Thomas Mann passou a se dedicar a escrever livros e, em 1896, viajou para a Itália, com o seu irmão Heinrich.
Trabalhou inicialmente na redação do jornal Simplicissimus, lançando em 1901 o seu primeiro romance: Os Buddenbrook. Alcançou sucesso imediato, e se tornou famoso.
Um dos grandes nomes da literatura mundial
O livro relata a saga de uma rica família de Lübeck e, embora o nome da cidade não seja citado na obra, é perfeitamente identificada pelos detalhes relatados.
O romance tem como pano de fundo eventos históricos que remodelaram a Alemanha: a Revolução de 1848, a Guerra Austro-Prussiana e a fundação do Império Alemão, em 1871.
Iniciando em 1835, o livro apresenta a família Buddenbrook, composta pelo patriarca Johann Jr. e sua esposa Antoinette; o filho destes, Johann III e sua esposa Elizabeth, com seus filhos Thomas, Christian e a filha Antonie, apelidada Tony.
Thomas e Tony são os principais personagens do enredo, centrado no sucesso empresarial de Thomas e nas opções sentimentais de Tony. Os demais personagens contribuem para a sofisticação e enriquecimento da narrativa.
O livro finaliza após inúmeras e bem construídas tramas, poucas alegrias e grandes decepções. E aí vai um spoiler: termina com a ruina total da família.
Muito além dos Buddenbrook
Embora apresentasse tendências homossexuais, em 1905 Mann casou-se com Katia Pringsheim — uma judia de família rica com quem teve seis filhos.
Em 1929 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, atribuído notadamente por seu primeiro romance: a saga da família Buddenbrook. Escreveu ainda os também aclamados Dr. Fausto e Morte em Veneza.
Opositor do governo nacional-socialista, o qual questionava em seus artigos e falas, teve as suas publicações proibidas. Em 1938, com a subida de Hitler ao poder, a família Mann mudou-se para a Suíça e, em 1944, naturalizaram-se norte-americanos.
Terminada a guerra, Thomas Mann voltou à Europa, visitou a Alemanha algumas vezes e viveu na Suíça. Morreu em Zürich em 1955, aos 80 anos.
Rathaus, a Prefeitura de Lübeck
O edifício da Prefeitura é o coração da cidade desde os tempos mais remotos. A sua construção foi realizada ao longo dos períodos em variados estilos construtivos, desde o Gótico, passando pela Renascença e hoje até apresenta partes construídas no estilo Moderno da arquitetura dos anos 1950.
Heiligen Geist Hospital, o Hospital do Espírito Santo
Este hospital é um bom exemplo para entender a preocupação da sociedade medieval rica de Lübeck com o bem estar dos necessitados, doentes e idosos.
O edifício foi construído e mantido durante séculos pelos abonados da cidade para também garantir um teto aos idosos e desabrigados. Poderíamos copiar aqui no Brasil, não é?
Até 1970 o grande salão do andar térreo ainda abrigava as cabinas, de cerca de 3 m² , do asilo de idosos. Hoje, anualmente, este local abriga uma das mais conhecidas feiras natalinas do norte da Alemanha.
Lübeck Marzipan, a guloseima da cidade
O marzipan fabricado em Lübeck distingue-se por seguir rigidamente as diretrizes da RAL — o instituto alemão de controle de qualidade — o qual define que o Lübeck Marzipan não pode conter mais de 30% de açúcar e o Lübeck Fine Marzipan apenas 10%.
Existem até fabricantes que produzem o Lübeck Fine Marzipan com 100% de pasta de amêndoas, adoçado com produtos tolerados por diabéticos.
Estivemos na Confeitaria Niederegger, a mais tradicional da cidade, fundada em 1806.
Existem referências da Idade Média sobre o consumo do “maçapão” no Oriente e em países mediterrâneos, um produto feito a partir de uma pasta de amêndoas moídas, açúcar e claras de ovos.
Naquela época, a dificuldade de adquirir amêndoas obrigava os produtores a usarem maiores proporções de açúcar na pasta, a qual chegava atingir 90% da massa.
A condição de Lübeck, capital da Liga Hanseática e centro de trocas comerciais, facilitava a aquisição de amêndoas a preços razoáveis, permitindo fabricar produtos de alta qualidade, com baixas proporções de açúcar.
E pertinho dali ainda tem Travemünde, o balneário a beira do Mar Báltico conhecido como a St. Tropez da Alemanha!
Agora que você tem tudo que precisa para sonhar com uma viagem a Lübeck lembramos que este conteúdo faz parte de uma série de textos que venho escrevendo sobre a nossa experiência na Alemanha.
Se ainda não leu, vale conferir também estes outros posts:
- Cidades na Alemanha;
- Aachen;
- Berlim;
- Bremen;
- Colônia;
- Darmstadt;
- Düsseldorf;
- Frankfurt;
- Hamburgo;
- Rothenburg ob der Tauber;
- Wuerzburg.
Para ver outros 30 países em que estivemos e mais dicas de viagens misturadas a Arte e História, nos acompanhe aqui no blog ou em nosso Instagram.
Até o próximo destino!
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