A Batalha das Nações foi o maior confronto militar antes da I Guerra Mundial. E ocorreu em Leipzig.
Leipzig é atualmente uma das mais expressivas cidades na Alemanha: tem se desenvolvido tanto no cenário atual que vem senso chamada de “Nova Berlim“.
Mas a relevância da cidade não é de hoje. Ela é importante desde os tempos medievais. Foi uma das mais importantes cidades da Saxônia.
Aliando-se ao lado errado
Em 16 de outubro de 1813 ocorreu em Leipzig a Batalha das Nações, que inverteu a trajetória vitoriosa de Napoleão redefinindo o alinhamento das forças militares na Europa. Como consequência, levou à sua derrota total em Waterloo, no dia 18 de junho de 1815.
Estima-se que cerca de 500 mil soldados participaram do confronto militar que durou apenas quatro dias. De um lado as tropas de Napoleão e seus aliados, dentre os quais o Reino da Saxônia; e, do outro, os exércitos da Grã-Bretanha, Áustria, Prússia, Rússia e Suécia.
Após a derrota Napoleão voltou para a França atravessando o Rio Reno, enquanto o rei da Saxônia Friedrich Albert I foi levado prisioneiro para Berlim.
O Reino da Saxônia, onde Leipzig se situava, permaneceu independente até 1871, data da integração ao Império da Alemanha. Este foi fundado pelo rei Friedrich Wilhelm I da Prússia, com apoio e brilhante liderança do seu chanceler Otto von Bismarck.
Um resumo descomplicado da Batalha das Nações
Travada nos arredores da cidade, o conflito confrontou uma massa de cerca de 500.000 soldados. Destes, cerca de 120.000 tombaram em combate.
Para piorar, em Leipzig, 10% da população da cidade morreu em consequência da difusão do tifo após a batalha.
Como adiantei acima, este evento, decisivo para a nova divisão territorial e política da Europa, é considerado o maior confronto militar ocorrido no continente até as batalhas da 1ª Guerra Mundial. Não é pouco!
Fato inusitado é que os alemães participaram pelos dois lados do confronto:
- os vencedores: a Prússia, ao lado da Grã-Bretanha, Áustria, Rússia e Suécia;
- os derrotados: o Ducado da Saxônia, aliado de Napoleão — fato que gerou a perda de 60% de seu território.
Este contexto esclarece porque somente 100 anos após a Batalha das Nações — com a consolidação do Império da Alemanha em 1871 —, em novo contexto político que uniu todos os alemães sob a mesma bandeira.
Só então foi possível a proposição da construção de um memorial.
Projeto arquitetônico e construção do monumento da Batalha das Nações
Em 1863, cinquenta anos após o confronto, foi lançada a pedra fundamental do monumento na presença de representantes de 240 cidades alemãs. Porém, a obra não teve sequência por falta de apoio popular, político e verbas para a sua construção.
É fácil imaginar que o conflito político, devido à participação de soldados alemães nos dois lados do combate, desestimularam a sua construção na então derrotada Leipzig.
Esta conjuntura somente foi superada com a proclamação do Império da Alemanha, em 1871.
Alguns anos depois, já em 1894, o arquiteto Clemens Thieme (1861-1945) fundou o Deutschen Patriotenbund, Liga dos Patriotas Alemães, com apoio da Maçonaria. O objetivo, entre outros, era de implantar um mausoléu.
No ano seguinte a Liga dos Patriotas Alemães promoveu um concurso para definir os conceitos e objetivos do futuro monumento, vencido pelo arquiteto Karl Doflein, de Berlim.
Em 1896 um novo concurso, então patrocinado pela Câmara Municipal de Leipzig, foi instituido para escolher o melhor projeto arquitetônico para o monumento, com base nos conceitos aprovados na proposta anterior. Recebeu a inscrição de 72 artistas plásticos do país.
Definindo o projeto
Como nenhum dos cinco projetos vencedores preencheu os requisitos da Liga dos Patriotas Alemães, foi decidida a escolha direta de outro profissional.
Para tanto, a Liga contratou em 1897 o arquiteto Bruno Schmitz (1826-1877) de Düsseldorf. Ele havia sido o 4º colocado no concurso anterior e era experiente em projetos de monumentos. Eventualmente o fato de ser também maçon tenha pesado na escolha.
Em 1898 o arquiteto Clemens Thieme já havia arrecadado com loterias e doações de apoiadores 80% da verba necessária para a construção do Monumento da Batalha das Nações e as obras foram iniciadas.
O custo desta instalação era estimado em 6 milhões de marcos-ouro.
A construção do monumento da Batalha das Nações
Em 18 de outubro de 1898 a pedra fundamental do monumento foi colocada no sudoeste da cidade, em um grande terreno doado por Leipzig.
Para a condução da obra foi contratado o próprio Clemens Thieme. Ele assumiu e coordenou as grandes dificuldades construtivas e técnicas do edifício de 91 metros de altura, executado em concreto revestido com rochas da região.
A estrutura da obra, considerada uma das mais importantes da época na Alemanha, foi executada pela Construtora Rudolf Wolle, de Leipzig, expoente na introdução do uso do concreto.
Foram uma das pioneiras na construção com concreto e ferro — técnica precursora do concreto armado. Utilizando formas deslizantes a estrutura atingiu uma altura de 23 metros acima do nível da rua, sem necessitar de andaimes.
Dificuldades da implantação do projeto
Especialmente difícil foi a execução dos alicerces em terreno frágil. Isso exigiu uma escavação de cerca de 5 m de profundidade para construir as placas da fundação de concreto, com espessura de 2 m.
Rudolf Wolle utilizou colunas pré-fabricas de concreto armado para a construção das paredes de contenção do lago frontal ao monumento, o que posteriormente foi patenteado pela construtora.
No desenvolvimento dos trabalhos o coordenador da obra — Clemens Thieme —, alterou alguns pontos significativos do projeto de Bruno Schmitz. Isso pode ser facilmente percebido nas duas ilustrações apresentadas acima.
Somente em maio de 1912 a obra foi terminada. Só após a colocação de suas inúmeras obras de arte o monumento pode ser inaugurado pelo Kaiser Wilhelm II, em 18 de outubro de 1913.
Apenas 100 anos após a ocorrência da Batalha das Nações.
O estilo artístico do monumento
O nome da obra em alemão é complicado: Völkerschlachtdenkmal. Mas os locais facilitam a vida dos turistas e o chamam de Völki.
Concluído em 1913, o monumento tem como maior destaque o design de figuras humanas em grandes proporções, projeto do Arqto. Bruno Schmitz.
As imagens são apresentadas em um estilo que se adianta doze anos ao Art Déco — o estilo de arte consagrado na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais de Paris, em 1925.
O estilo interno do mausoléu caracteriza-se basicamente por apresentar figuras humanas com formas definidas, puras e geométricas, construídas com linhas retas e curvas estilizadas, tanto nos desenhos figurativos como nos abstratos.
Em São Paulo, o escultor Victor Brecheret também se adiantou ao estilo Art Déco ao executar o gigantesco Monumento das Bandeiras, construído entre 1920 e 1953, com figuras humanas, canoas e animais, esculpidas em granito com características estéticas muito próximas.
Detalhes do que irá encontrar no Völki
No interior há um grande Hall da Fama central, uma cripta simbolizando o túmulo e o luto pelos mais de 120.000 mortos da Batalha das Nações, quatro esculturas com dois guardiões de 9,5 m de altura simbolizam os tombados.
Estas expressivas e belas obras do escultor tcheco radicado em Berlim, Franz Metzner (1870-1919), inspiradas nas gigantescas esculturas egípcias de Tebas, ressaltam também as virtudes do povo alemão nas guerras de libertação:
- Bravura;
- Força da Fé;
- Força Nacional;
- Disposição para Sacrifício.
Acobertura do edifício é revestido internamente por um belo forro em painel curvo, circundando a cúpula com 324 cavalheiros da guarda. Em relevo quase no tamanho natural, fundida em gesso no local por forma perdida.
O uso ideológico do mausoleu
Abaixo informo alguns dados resumidos do uso político do monumeto da Batalha das Nações ao longo do tempo:
- 1913: o mausuleo foi inaugurado após 100 anos do confronto histórico, que marcou o início do fim da trajetória vitoriosa de Napoleão. A cerimônia contou com a presença do imperador alemão, Kaiser Wilhelm II e do rei da Saxônia Friedrich August III. Também estavam presentes os monarcas da Áustria, Rússia e Suécia. Não foi convidado o presidente da França, Raymond Poincaré;
- 1914: a partir desta data, foi instituída a consagração de bandeiras no Reichskriegertag, dia dos guerreiros da Alemanha — cultos e orações pelas armas alemãs;
- 1918: comemorações anuais em homenagem dos caídos na 1ª Guerra Mundial;
- 1933: o partido Nacional Socialista promoveu reuniões partidárias aliciando o povo para o engajamento nos seus planos de luta e conquista política;
- 1938: o partido Nacional Socialista renomeou o lago frontal que espelha o memorial com o nome de Lago das Lágrimas pelos Soldados Caídos, denominação ainda em uso em Leipzig;
- 1949: utilização do monumento como marco da congregação dos exércitos alemães e soviéticos;
- 1990: a Reunificação da Alemanha permitiu que tanto a sociedade local como internacional visitem este belíssimo monumento, apenas com objetivos históricos, culturais, estéticos e turísticos.
Leipzig e outras cidades na Alemanha
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