Caso você esteja chegando em Frankfurt para iniciar ou finalizar a sua viagem, uma boa opção para se aclimatar ou despedir da Europa é passar o primeiro ou o último dia da viagem em Darmstadt. Ambas as cidades ficam no estado de Hessen.
Hoje, Hessen é um dos 16 estados que compõe a República Federal da Alemanha. Sua capital é Wiesbaden e as maiores cidades são Frankfurt am Main, Kassel e Darmstadt.
Distando de Frankfurt cerca de 30 km, Darmstadt é alcançável por trens que partem a cada 15 minutos, chegando ao destino em cerca de 20 minutos. O custo de cada viagem é da ordem de EUR 10,00.
Em um dia podem ser visitadas as suas duas grandes atrações: a colina de Mathildenhöhe e o Hessisches Landesmuseum — o ótimo museu de artes da cidade.
Informações preliminares
Darmstadt é uma cidade que apresenta uma história de pesquisas coroadas com eventos marcantes como a descoberta, em 1994, do elemento químico darmstadtium – DS, de número atômico 110.
A cidade também se distingue pela Universidade Técnica de Darmstadt com seus cursos de arquitetura, engenharia, ciências puras e aplicadas, ciências da comunicação, computação e de tecnologia da informação.
Lá também está a sede da Merck, a empresa química mais antiga do mundo, fundada em 1668.
Continua sob o controle da família Merck, após 13 gerações de liderança em ciência e tecnologia, contando hoje com uma base de dados de 200.000 elementos indexados e biblioteca especializada com acervo de 10.000 livros. Multinacional, uma de suas muitas filiais está aqui no Brasil.
Porém o nosso objetivo não é conhecer a capacidade produtiva desta cidade secular e, sim, como melhor usufruir das suas ofertas e oportunidades de lazer cultural e prazer estético.
Entendendo Mathildenhöhe para usufruir melhor a visita
A Colônia de Artistas que ali existiu é obra de um mecenas poderoso: o Grão-duque Ernst Ludwig. Membro da alta aristocracia europeia foi governador da província de Hessen até 1918. Por isso, mais à frente, apresento a sua surpreendente e cativante biografia.
Mathildenhöhe
Ernst Ludwig contratou em 1899 o renomado arquiteto vienense Josef Maria Olbrich para projetar e dirigir a execução da Künstlerkolonie: uma colônia de expoentes das artes, na colina de Mathildenhöhe.
Guardadas as proporções e intenções algo como a Brasília dos sonhos de Juscelino Kubitchek com Oscar Niemeyer para o projeto da nova capital do Brasil.
Esta comunidade, que chegou a contar com 23 artistas participantes, vivendo por um ano a expensas do grão-duque, consolidou as condições para materializar um projeto a ser realizado em conjunto — produzindo uma obra de autoria coletiva — idealizada pelo movimento Arts & Crafts.
Joseph Maria Olbrich
O arquiteto Olbricht era na época já reconhecido como um expoente da Secessão Vienense. É dele o projeto do prédio da Secessão Vienense.
Mesmo assim, Olbrich empolgou-se com a proposta do grão-duque e deixou Viena para se dedicar totalmente ao novo projeto. Fez o loteamento da área, projetou edifícios, jardins, instalações para exposições, além de ter se envolvido na publicidade do empreendimento e cuidado de detalhes como o design da louça e dos uniformes dos funcionários do restaurante do bairro.
Não perca a bela vista do alto da torre sobre o centro de Darmstadt.
É imperdível visitar estes locais!
Outro grande nome fez parte do movimento
Peter Behrens era na época um artista gráfico e pintor que despontava com grande êxito na Alemanha do início do século XX.
Behrens construiu uma casa no local, depois deixou o projeto e se tornou um dos mais importantes nomes da Bauhaus.
Mais obras da época a serem visitadas
Além dos citados acima, outras residências e edifícios foram construídos no local para os participantes do projeto, podendo ser visitadas atualmente no bairro, com destaque para os abaixo relacionados:
- residência Glückert, um renomado fabricante de móveis: projeto de Josef Maria Olbrich, 1901;
- residência Ludwig Habich, renomado escultor de Mathildenhöhe: projeto de Olbrich, 1901. Reconstruida em 1951;
- residência Wilhelm Deiters, gerente da Colônia de Artistas: projeto de Olbrich, 1902;
- residência Paul Ostermann, diretor das coleções do grão-duque: projeto de Alfred Messel, 1908;
- Instituto Mathildenhöhe: projeto de Jacob Krug, 1908.
E agora, para melhor entender o contexto em que foi criada a colônia de artistas em Mathildenhöhe — um testemunho cultural/estético urbano situado nas proximidades do centro da cidade, apresento quem foi o seu grande mecenas.
Ernst Ludwig foi o principal protagonista desta obra coletiva, um belo testemunho da história do Jugendstil, nos primórdio do século XX.
Em tempo: Jugendstil é o nome alemão do movimento paralelo, contemporâneo e coerente com o movimento conhecido como Art Nouveau / Déco.
Se quiser ter uma melhor ideia da cronologia dos estilos artísticos ao longo do tempo, veja nosso post sobre História da Arte.
Grão-duque Ernst Ludwig von Hessen
O Grão-duque Ernst Ludwig von Hessen nasceu em 25 de novembro de 1868 e faleceu em 9 de outubrode1937. Governou o Ducado de Hessen de 1892 até 1918 — com o final da Primeira Guerra Mundial o grão-ducado foi extinto e integrado ao Império Alemão.
Diferindo dos outros grão-duques e príncipes governadores dos 26 estados do império, Ernst Ludwig foi autorizado a permanecer na cidade mantendo algumas de suas propriedades.
Viveu de 1918 a 1937 com sua família no Palácio de Caça de Wolfsgarten, construído em 1724 em Linden, a 6 km de Darmstadt.
Neste tempo dedicou-se às atividades culturais e estéticas no convívio com sua família, tendo falecido aos 69 anos. Foi sepultado no mausoléu dos grão-duques da família, em Darmstadt.
Sua vida pessoal
Como governante foi prudente e, na cultura dedicado à promoção da arte, do design e da arquitetura.
Homossexual, casou-se duas vezes: por necessidade de gerar um herdeiro e, não por último, por incontornável pressão familiar.
O seu primeiro casamento foi articulado pela rainha Vitória da Grã-Bretanha, sua avó materna, induzindo-o a casar-se com sua prima, a princesa Victória Melita — mesmo tendo externando a sua condição e com os riscos de hemofilia dentro da família.
Victória Melita além de neta da rainha inglesa também era neta do Czar Alexander II.
Em 1894 as grandes festividades da união do casal foram realizadas em Coburg, cidade tradicional dos casamentos da nobreza.
Na ocasião o então futuro czar da Rússia Nicolau II pediu a mão da irmã de Ernst Ludwig, Alice von Hessen, em casamento. As bodas se realizaram no final daquele mesmo ano.
O primeiro casamento
A princípio o casal tentou levar sua vida conjugal nos padrões da época e tiveram uma filha em 1895, Elizabeth.
Victoria Melita não era ligada à filha e, desinteressada da família, passou a viajar constantemente. A criação de Elizabeth ficou completamente a cargo do pai.
Em 1901, apenas alguns dias após a morte da poderosíssima rainha Vitória, Victória Melita partiu sozinha levando seus pertences, para nunca mais voltar. Declarou o casamento inviável, e foi morar com os pais na Inglaterra.No mesmo ano o casamento foi dissolvido no tribunal de Hessen.
Mais tarde, em família, Victória Melita declarou que desfez o casamento por ter se cansado dos casos homossexuais do marido, expondo suas relações com funcionários da casa.
De sua parte, já logo depois do nascimento de Elisabeth, Victoria Melita reencontrou um ex-namorado russo em uma de suas muitas viagens.
A partir de 1902 Ernst Ludwig passou a se dedicar inteiramente à implantação da Künstlerkolonie em Mathildenhöhe. As obras foram iniciadas com o Pavilhão das Exposições e da Igreja Ortodoxa Russa, patrocinada por seu cunhado, o Czar Nicolau II da Rússia.
Tragédia familiar e um novo recomeço
No ano seguinte, ao passar férias na Polônia na casa de campo da família imperial russa, Elisabeth contraiu um violento ataque de febre tifoide que a levou a morte súbita. O corpo foi colocado em um caixão de prata, presente de seu tio Nicolau II, e enviado para ser colocado no mausoléu da família em Darmstadt.
Nesta época Ernst Ludwig estabeleceu um relacionamento próximo com a princesa Leonor von Solms-Hohensolms-Lich, de trinta e três anos, chegando a um acordo e casamento em 1905.
Um ano depois nasceu o primeiro filho, Georg Donatus e, após mais dois anos o segundo, Ludwig Hermann. A Hochzeitsturm, ou Torre do Casamento, é uma celebração desta união feliz.
Hessisches Landesmuseum Darmstadt
Esse é o nome em alemão do Museu Estadual de Darmstadt. Não deixe de visitá-lo em sua ida a Darmstadt.
Nos painéis e nas gavetas, as joias podem ser observadas e fotografadas. São mais de 250 exemplares Jugendstil/Art Nouveau do final do século XIX até os anos 30 do século XX.
Acredito ter despertado o seu interesse para conhecer Darmstadt. Qualquer dúvida, marque nos comentários.
E, se quiser saber mais sobre Jugendstil, a Secessão Vienense, Wiener Werkstätte, o Art Déco na Europa, Estados Unidos e Brasil recomendamos conferir o nosso livro sobre o assunto. Ele é um dos mais completos projetos sobre o Art Déco já publicado no Brasil.
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